Argentina tem plano ousado de estabilização fiscal
- abrameq
- há 2 dias
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A Argentina é destaque ao representar um processo de estabilização "mais ousado" entre os países emergentes, baseando a recuperação na disciplina fiscal, aponta relatório do IIF (Instituto Internacional de Finanças) publicado nesta semana.
Desde que assumiu o poder em dezembro de 2023, o presidente Javier Milei promove uma agenda de cortes de gastos extensos a fim de estabilizar a hiperinflação e o cenário macroeconômico do país.
A nota de pesquisa ressalta que, enquanto os gastos públicos tiveram uma queda real de cerca de 30%, a inflação acumulada em 12 meses caiu de um pico de 270% em julho de 2024 a pouco mais de 40% em maio.
Apesar de o câmbio ainda ser limitado para as empresas, o IFF destaca o fim do cepo cambial, que restringia o acesso dos cidadãos a dólares norte-americanos.
"O conjunto de políticas é coerente e focado, evitando promessas excessivas e priorizando a execução consistente. [...] A eliminação de impostos e barreiras burocráticas — aliada a uma taxa de câmbio flutuante — está permitindo que as empresas planejem uma expansão de longo prazo", escreveu o economista-chefe do Instituto, Marcello Estevão.
Ao se aproximar de quem move a economia do país, o IFF notou que a economia real da Argentina mostra sinais de recuperação, particularmente nos setores exportadores.
Enquanto isso, o crédito ao setor privado, que anteriormente era de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), está se aproximando de 10%.
"Os bancos começaram a se afastar dos títulos públicos e a focar no crédito privado, impulsionados em parte por uma demanda renovada por hipotecas. Embora a penetração hipotecária ainda esteja muito abaixo dos pares regionais, o mercado de crédito de longo prazo começa a se recuperar", relata Estevão.
Nesse cenário, "o sentimento dos investidores mudou para uma direção mais positiva", pontua o IIF. Porém, o relatório afirma que esse otimismo ainda é freado por uma cautela.
Apesar de o governo demonstrar compromisso com as reformas, investidores globais permanecem cautelosos, pondera o documento.
"As reservas externas são limitadas, o sistema financeiro ainda é pequeno, e o histórico de instabilidade da Argentina pesa sobre as expectativas", elenca o relatório.
"O acesso do governo aos mercados de capitais segue restrito, mas sinais de normalização começam a surgir. Diversas empresas conseguiram emitir no exterior, e os spreads soberanos diminuíram. O apoio de instituições multilaterais desempenha um papel crítico, mas a acumulação de reservas e a credibilidade das políticas são fundamentais para mitigar a volatilidade", pondera.
Dentre os caminhos que o IIF sinaliza para consolidação da reforma na Argentina, destaca que:
- O setor financeiro enfatiza a necessidade de se desenvolver um mercado de securitização para expandir o financiamento habitacional e ajudar a reduzir o déficit habitacional;
- Liberar todo o potencial dos setores exportadores do país exigirá novos investimentos em infraestrutura, especialmente em dutos, portos e transporte;
- A agenda de reformas ainda é vulnerável à incerteza política, embora se espere um bom desempenho do governo nas eleições de meio de mandato;
- Reformas trabalhistas e tributárias são essenciais para aumentar a produtividade e atrair investimentos;
- Institucionalizar a disciplina fiscal por meio de mecanismos legais ou constitucionais foi uma sugestão recorrente para garantir sustentabilidade de longo prazo.
"No geral, a Argentina superou as expectativas na fase inicial de sua reviravolta econômica. Alcançar uma consolidação fiscal antecipada, domar a inflação e simplificar o regime cambial em poucos meses é uma conquista notável", pontua o relatório.
"Mas sustentar esse progresso exigirá aprofundamento das reformas, apoio institucional e mobilização de investimentos privados. Hoje, a Argentina oferece aos investidores uma rara combinação de promessa e incerteza. Os próximos meses serão decisivos para mostrar se esta estabilização representa uma ruptura duradoura com o passado — ou apenas mais um capítulo em sua história cíclica", conclui.
CNN Brasil

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